Aspectos do Corredor Logístico do Porto do Açu: como discutir os impactos?
Atendendo ao convite da Câmara Municipal de São João da Barra, representantes do Governo do Estado do Rio de Janeiro apresentaram, em linhas gerais, o projeto do corredor logístico que será responsável pelo fluxo de produtos e matérias primas para o Porto do Açu e partindo deste para diversas regiões do Brasil. Sem dúvidas, um grande projeto de infra-estrutura logística que integra os modais rodoviário, ferroviário e marítimo, além da construção de linhas de transmissão, no contexto do espaço territorial dos municípios de São João da Barra e Campos dos Goytacazes.
Pela ótica da engenharia, pode-se observar um grande esforço técnico norteando o projeto. Entretanto, a busca de bons termos em situação dessa natureza, exige a conjugação de outros elementos de cunho multidisciplinar. A pouca ênfase nessa visão aflora algumas contradições que merecem uma discussão mais aprofundada.
A primeira diz respeito a desconsideração das condições sócio-culturais do ambiente de operação. O conjunto de investimentos destinado para o município é muito importante, já que vai garantir a formação de riqueza e, fundamentalmente, um forte processo de crescimento econômico. Entretanto, tratar a distribuição da riqueza é essencial para inibir os malefícios do crescimento concentrado. A audiência focou o projeto especificamente nos aspectos de engenharia e descuidou da discussão sobre a inserção dos produtores rurais no mesmo processo.
Outro equívoco que se relaciona com o primeiro, é a forma de condução de problema tão complexo, envolvendo a construção do corredor logístico e o processo de desapropriação dos produtores rurais envolvidos. Dado a natureza do problema, a visão precisa ter uma dimensão sistêmica, integrando as secretarias estaduais de agricultura, desenvolvimento econômico, transporte, meio ambiente e outras relacionadas, além do empreendedor. A visão por uma via única repete as velhas falhas do sistema de acumulação capitalista de concentração de riqueza.
Um terceiro equivoco pode ser verificado na composição do comitê para discussão dos impactos socioeconômicos em decorrência do projeto. As cadeiras pertencem aos políticos dos Governos do Estado e do Município, decisão que deixa de fora a sociedade civil e seu conhecimento técnico. Historicamente este modelo não tem ajudado na solução de problemas importantes para a sociedade.
Nesta audiência, ficou patente a ausência de conhecimento no uso de terminologias importantes como: distrito industrial, desenvolvimento econômico, agricultura familiar, pertencimento territorial e organização da produção agrícola. O Legislativo, disposto a intervir nesse processo, precisa exigir a participação efetiva do conhecimento técnico local na busca de soluções para problemas que poderão afetar, profundamente, as bases desta sociedade.
Postado por Alcimar das Chagas Ribeiro http://economianortefluminense.blogspot.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário