Para "Science", desigualdade na ciência no Brasil ainda é entrave
DE SÃO PAULO
A ciência do Brasil vai bem, mas ainda precisa vencer a desigualdade entre regiões. Essa é a análise da revista científica americana "Science", uma das mais importantes do mundo, sobre a atividade científica brasileira. A publicação afirma que o país já se dá ao luxo de fazer "big science" (ciência cara e de grande porte), como no caso de neurociências, transgênicos e energia nuclear.
Mas os maiores gastos (e, consequentemente, os resultados) da ciência brasileira ficam concentrados no Sudeste do país. Só o Estado de São Paulo tem metade da produção de artigos científicos. A "Science" também afirma que, apesar de milhões de brasileiros terem saído da pobreza extrema nos últimos anos, a desigualdade social ainda é um desafio. "No entanto, seria um desastre aguardar a solução dos problemas básicos da sociedade para começar a criar competências, são duas frentes simultâneas e uma ajuda a outra", diz Sérgio Salles-Filho, engenheiro especialista em política científica da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
ABISMO
Salles-Filho concorda que existe um buraco entre o conhecimento produzido pela florescente ciência brasileira e seu impacto na vida das pessoas. "Fazer ciência apenas para aparecer em rankings internacionais não é boa coisa. Há uma visão míope de que o artigo científico é o fim último da ciência. É preciso medir suas consequências para a sociedade", completa. Por falar em artigos, o país vai bem. Como a "Science" destaca, a produção científica publicada em revista científica mais do que triplicou na última década. No entanto, o impacto desses trabalhos, ou seja, o quanto eles são citados internacionalmente em outros artigos científicos, ainda é baixo. O gasto com ciência no Brasil atingiu 1,2% do PIB, e o país hoje forma mais de 10 mil doutores por ano. Salles-Filho atribuiu o fenômeno à conjuntura econômica e à consolidação da política científica nacional entre os anos 1990 e 2000. "A criação de novas fontes de financiamento público nesse período mudou o rumo das coisas", analisa.
POUCA INOVAÇÃO
Outras pedras no caminho da ciência nacional apontadas pela "Science" são o pouco empreendedorismo dos cientistas brasileiros e o distanciamento do setor privado, ao contrário do que acontece nas grandes universidades do mundo. "Falta cultura acadêmica para o empreendedorismo. E é difícil um lugar ao sol no mercado de empreendimentos de base tecnológica no Brasil", explica Salles-Filho.Para a "Science", o país tem se destacado positivamente na área agrária. Instituições como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) mostram que o país está se transformando de um exportador de matéria-prima para um desenvolvedor de produtos com base em atividade científica. "As ciências agrárias sempre foram aplicadas, o que ajuda a estruturar a atividade produtiva. O agronegócio representa 25% do PIB do país", analisa Salles-Filho. De acordo com o especialista, o desenvolvimento científico recente atingido pelo país "não é pouca coisa". "Agora não há mais retorno", conclui.
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