Observatório Socioeconômico do Noroeste Fluminense

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

IPEA informa: a concentração de renda por municípios brasileiros



No Brasil, 56 municípios concentram 47% da renda


Comunicado do Ipea n° 60 analisou evolução da renda no país entre 1920 e 2007
Enquanto 1% dos municípios brasileiros mais ricos concentrava 21% da riqueza do País em 1920, em 2007 a concentração dessa riqueza subiu para 47% nos 56 municípios mais ricos. É o que revela o Comunicado do Ipea nº 60 – Desigualdade da Renda no Território Brasileiro, apresentado pelo presidente do Instituto, Marcio Pochmann, na quinta-feira (12), na sede do Instituto, em Brasília
O estudo analisa a desigualdade e concentração de renda por meio dos Produtos Internos Brutos (PIBs) e PIBs per capita nos municípios e teve como referência os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), considerando um período de quase 90 anos – de 1920 a 2007. O Comunicado aponta que os 40% dos municípios mais pobres respondem por apenas 4,7% do PIB do Brasil. No caso dos municípios entre os 70% mais pobres, a participação caiu de 31,2% em 1920 para apenas 14,7% em 2007. E somente 556 municípios, 10% dos municípios brasileiros, respondem por quase 4/5 da renda do País.
Pochmann alertou que a concentração é muito mais intensa do ponto de vista de alguns municípios do que a distribuição da renda por indivíduos. Segundo ele, as causas estão relacionadas ao fato de o Brasil ter tido projetos de desenvolvimento fortemente concentrados no espaço territorial.
“É fundamental que o Brasil passe a ter uma política nacional de desenvolvimento das regiões e das localidades. Aprofunde investimentos públicos e privados em termos de infraestrutura econômica social com mais municípios possíveis. É necessário levar o desenvolvimento econômico para aqueles municípios mais débeis, que dependem justamente de políticas nacionais e estaduais”, avaliou o presidente do Ipea.
EstadosDe 1996 a 2007, o grau de desigualdade dos PIBs dos municípios aumentou somente no Espírito Santo (3,7%) e no Mato Grosso do Sul (1,9%). Nos demais estados, houve queda da concentração de renda. Os estados com maior baixa no índice de Gini, entre esse período, foram Acre (diminuição de 13,5%), Sergipe (queda de 11,3%) e Rondônia (baixa de 9,0%). Goiás (queda de 0,3%) e São Paulo (recuo de 1,3%) apresentaram as menores reduções na desigualdade territorial da renda.
O Comunicado mostra ainda que os estados com maior expansão dos PIBs municipais foram Tocantins, Maranhão e Mato Grosso do Sul. Porém, o presidente do Ipea ressaltou que o crescimento econômico não significa necessariamente melhor distribuição de renda entre a população.“É muito comum no Brasil a concentração da riqueza com a pobreza, especialmente pelo fato de que a renda gerada termina sendo concentrada em poucas pessoas. Essa renda é muito concentrada também em poucos municípios, o que ajuda o Brasil a ser detentor de um dos piores indicadores de desigualdade de renda”, afirmou Pochmann.
A publicação contém, ainda, um anexo com os PIBs dos municípios em valores reais em anos selecionados.
Leia a íntegra do Comunicado do Ipea nº 60
Veja a tabela com o PIB dos municípios em anos selecionados

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O desenvolvimento humano e os valores












Novo indicador do RDH retrata vivências no trabalho, na educação e na saúde

IVH (Índice de Valores Humanos), calculado para o Brasil e as cinco regiões do país, é inédito no mundo e tem escala igual à do IDH



Educação é o que mais preocupa o BrasilPara brasileiros, país carece de 'valores'Violência cresce, dizem 90% dos brasileiros

Foi divulgado nesta terça-feira um indicador inédito no mundo, o IVH (Índice de Valores Humanos), que retrata as vivências dos brasileiros nas áreas de saúde, educação e trabalho. Ele faz parte da versão inicial do terceiro caderno do Relatório de Desenvolvimento Humano Brasil 2009/2010.
O IVH indica o grau de respeito a valores nas áreas de saúde, conhecimento e padrão de vida — as mesmas categorias levadas em conta no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), criado em 1990 e calculado para mais de 180 países. Assim como o indicador divulgado anualmente pelo PNUD, ele varia de 0 a 1 (quanto mais próximo de 1, maior).
“O novo índice busca dar materialidade à discussão sobre a importância dos valores para o desenvolvimento humano”, afirma o coordenador do RDH Brasil 2009/2010, Flávio Comim. “O IDH concentra-se nos resultados. O IVH desloca a atenção para os processos que levam a um pior ou melhor desenvolvimento humano. Os dois índices são complementares”, acrescenta.
Os dados foram coletados em pesquisa feita no início deste ano com parceria do Instituto Paulo Montenegro, ligado ao Ibope, com 2.002 entrevistados em 148 municípios de 24 unidades da Federação. Os valores abordados estão entre os destacados na pesquisa Perfil dos Valores dos Brasileiros, que fez parte do segundo caderno do relatório: respeito, liberdade, reciprocidade e convivência.
A elaboração do IVH partiu do conceito de que os valores são formados a partir das experiências das pessoas — por isso, o índice capta a percepção dos indivíduos sobre situações vivenciadas no dia a dia.
Subíndices
O IVH do Brasil é 0,59, valor que equivale à média dos três subíndices que o compõem. O maior é o ligado a trabalho (chamado IVH-T): 0,79. Isso indica que as pessoas têm mais vivências positivas nessa área do que nas outras duas, segundo Comim.
O IVH-T abrange principalmente questões ligadas a liberdade e reciprocidade. Um IVH próximo de 1 aponta que, no ambiente de trabalho, as pessoas experimentam mais situações positivas (como realização profissional, cooperação entre os colegas, liberdade para expressar opiniões, motivação) do que negativas (frustração, estresse, discriminação, falta de reconhecimento e indignação, por exemplo).
Na dimensão de educação (IVH-E), o índice é 0,54. Ela destaca os valores de convivência e aborda três aspectos. Um deles capta o que os entrevistados acham que a educação escolar deve priorizar: conhecimento para ser uma boa pessoa, um bom cidadão, para ter uma boa vida ou conseguir emprego. Quanto mais respostas indicando os conhecimentos que tendem a gerar mais benefícios públicos (como ser uma boa pessoa e um bom cidadão), maior o IVH-E. Outro aspecto incluído no IVH-E é a avaliação dos entrevistados sobre os estudantes (se têm interesse pelos estudos, respeito aos professores e honestidade, por exemplo). O terceiro é uma avaliação dos professores (semelhante à dos alunos: se respeitam os alunos, se têm interesse pelo alunos, honestidade e liberdade para expressar suas ideias).
O indicador em que o Brasil se sai pior é o de saúde (IVH-S): 0,45. Este subíndice sintetiza a opinião dos entrevistados sobre três aspectos relacionados aos serviços do setor: tempo de espera por atendimento, facilidade de compreensão da linguagem usada pelos profissionais de saúde e interesse que a equipe médica tem pelo paciente.
Os resultados da pesquisa mostram que mais da metade da população (51,1%) julga que a espera por atendimento em serviço de saúde é demorada (não foi feita distinção entre setor público ou privado). Apenas 27,1% acham fácil a compreensão da linguagem dos profissionais do setor, e 30,7% avaliam que eles têm pouco interesse em ajudar os pacientes.
Diferenças
O IVH foi calculado não apenas para o Brasil, mas também para as regiões. Sudeste e Sul, justamente as regiões com maior IDH, lideram o ranking do Índice de Valores Humanos, com 0,62. Em seguida, vêm Centro-Oeste (0,58), Nordeste (0,56) e Norte (0,50).

No IVH-S, a média brasileira é superada por Sudeste (0,51), Centro-Oeste (0,48) e Sul (0,47). O Norte é, novamente, a região com menor valor (0,31), seguido do Nordeste (0,36). Mais de dois terços (66,9%) dos moradores do Norte avaliam, por exemplo, que o tempo de espera por atendimento de saúde é elevado, e quase metade (44,6%) considera que a linguagem dos profissionais da área é muito difícil (44,6%).
Na dimensão educação, as diferenças são um pouco menores, com exceção da região Norte. A média brasileira do IVH-E (0,54) é superada por pouco no Sudeste (0,55) e no Sul (0,55), coincide com a do Centro-Oeste e fica pouco acima da do Nordeste (0,53). No Norte, o valor é 0,47. Nessa região, “a maior parte da população (40,4%) considera que o mais importante a ser ensinado às crianças são conhecimentos para obter um bom emprego”, destaca o relatório.
No IVH-T, o Sul é que se saiu melhor (0,84), seguido do Sudeste (0,80). Nordeste (0,78) e Norte (0,74) não ficam muito longe da média brasileira (0,79). O pior nessa dimensão é o Centro-Oeste (0,68), região em que há mais relatos de vivências no trabalho relacionadas a sofrimento.
Calculado para diferentes grupos de renda e de nível de escolaridade, o IVH contraria a desconfiança de que os mais pobres ou menos escolarizados tendem a ser mais condescendentes. Pelo que sinaliza o índice, há uma tendência, ainda que nem sempre linear, de que as vivências positivas sejam mais frequentes nos grupos com mais renda e educação. “As pessoas mais pobres e com menos educação não indicaram que tudo está bem. Pelo contrário, elas confirmaram a hipótese de que a pobreza e a exclusão impõem penalidades dobradas a elas”, afirma o relatório.